Por Alexander Onça
Foi com o Teatro Imaginário Maracangalha que o Festival América do Sul chegou na manhã deste sábado (22) até a cidade de Ladário, bem no meio da Praça Gastão Brasil, conhecida como Nossa Senhora dos Remédios.
As vozes eram dos integrantes do grupo, mas a narrativa era de uma voz que parecia ainda não ter se calado. A peça “Tekohá – Ritual de Vida e Morte do Deus Pequeno” contou na luz do dia, em meio ao movimento da rua e da feira, a trajetória de luta, a resistência e a morte do líder guarani Marçal de Souza.Na plateia, moradores de rua, vendedores ambulantes, feirantes e quem mais passava por lá. Era difícil resistir ao olhar.
O ator e diretor do grupo, Fernando Cruz conta que na região de Ladário a interação e a resposta das pessoas despertaram o sentimento de dever cumprido. “Nosso público em boa parte é de morador de rua e de gente que faz dela sua vida. Se não tiver mendigo, criança e cachorro então não rola. O teatro é bom quando dá acesso de maneira livre e com isso o público chega. Ele não pode ser subestimado. Foi isso que aconteceu aqui, fizemos um cortejo pela feira e nos acompanharam até a praça, esse é o grande barato”, contou Fernando Cruz.
A peça Tekoha, cujo nome se refere à terra tradicional da cultura guarani, grita de maneira dura e envolvente contra as negligências do poder público e principalmente contra as repressões policiais e sociais sofridas pelo indígena.
Para a feirante boliviana e moradora de Ladário, Maria Esperança de La Fuente, a peça trouxe lembranças de sua infância quando presenciou conflitos de terra envolvendo indígenas. “Esses gritos me levaram para a antiguidade quando acontecia muita violência e ninguém ficava sabendo, era muita injustiça e isso segue acontecendo, mesmo assim fiquei feliz de prestigiar isto aqui na praça, é importante para nós”, disse a comerciante.
Publicado por: Thereza Christina Amendola da Motta